Indefinição de Joaquim Barbosa mina sua própria candidatura.



Poucas candidaturas são tão viáveis como a do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa. Num momento político tão polarizado, poucos candidatos conseguiriam votos da esquerda à direita, de Lula a Bolsonaro, arrebanhando também eleitores de Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (REDE) e Geraldo Alckmin (PSDB). Por sua atuação icônica no julgamento do mensalão, a candidatura de Barbosa teria muito do sentido de “antiestablishment”, que norteará boa parte do eleitorado em 2018.

Joaquim Barbosa foi convidado a disputar a Presidência da República pelo PSB, partido tradicional e de médio porte da política brasileira, cuja tendência é crescer ao patamar de partido grande nas próximas eleições, pondo fim à hegemonia de PT e PSDB, que se estende há décadas na disputa à Presidência da República.

Mas nem tudo são flores, o que é natural. Algumas alas do PSB resistem à tese da candidatura do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), por conta de articulações e interesses locais. Não haverá aclamação ou unanimidade à candidatura de Joaquim Barbosa no PSB. Em nenhum partido grande é assim. O que não quer dizer que a legenda não lhe dará a indicação como candidato.

Nem Eduardo Campos, uma das principais lideranças do PSB, neto de Miguel Arraes, um dos fundadores da legenda, foi unanime em sua candidatura. Em 2014, ele teve de “emparedar” alas do PSB que insistiam na manutenção da coligação com o PT.

Também é assim no PSDB. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin – pré-candidato tucano -- embora domine a legenda, sabe que sua cria, o prefeito João Dória, coloca-se como opção à sua postulação. É uma espécie de tradição do partido. Antes, Aécio Neves se engalfinhou com José Serra pela indicação de candidato, entre outros entreveros.

Da mesma forma acontece no PPS, caso Luciano Huck confirme sua pré-candidatura -- se é que será pelo PPS. Mesmo com todo o promissor burburinho que o nome do apresentador cria para a disputa eleitoral, o senador Cristovam Buarque também registrou sua pretensão de ser candidato à Presidência da República pela legenda.

A chegada de Ciro Gomes no PDT, implicou a saída de Cristovam Buarque da legenda. Outros três senadores foram expulsos da legenda trabalhista pela forma como votavam no Senado e as implicações que teria na campanha de Ciro Gomes.

Até o ex-todo-poderoso-ex-presidente Lula, em 2002, teve de enfrentar prévias para confirmar sua candidatura à Presidência da República. O então senador Eduardo Suplicy também queria ser candidato. A postulação de Suplicy, legítima, criou mal-estar à cúpula do partido.

Partidos consolidam sua força política através da eleição de bancadas numerosas em Assembleias Legislativas e no Congresso e com governadores de Estado. Dessa dinâmica, naturalmente surgem os conflitos de interesses.

Um dos conflitos de interesses que são contrários à candidatura de Joaquim Barbosa é gaúcho. Depois de ter perdido, em setembro do ano passado, o comando do diretório estadual do PSB do Rio Grande do Sul, o ex-deputado e ex-candidato a vice na chapa de Marina Silva, Beto Albuquerque, entregou ao presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, uma carta em que se coloca à disposição da legenda para disputar à Presidência da República. Por mais tradicional que seja sua liderança na legenda, não passa de jogo cena.

Outro que reage à candidatura de Barbosa é o vice-governador de São Paulo, Márcio França, lastreado por um projeto de vulto político inegável: o governo do estado de São Paulo.

França tenta o apoio do PSDB à sua campanha para permanecer no comando do governo do Estado, e se esforça nos sinais a Alckmin de que o PSB apoiará sua candidatura à Presidência da República. Os gestos de França começam com o envio de informações às redações da grande imprensa que alimentam incertezas à candidatura de Barbosa. 

O ex-ministro Aldo Rebelo, ligado ao vice-governador, embora recém-chegado à legenda, também colocou seu nome à disposição do partido para uma candidatura à Presidência da República. Gesto encomendado, ao que tudo indica, por Márcio França, a quem Rebelo é muito próximo.

França espera o apoio do PSDB. França sabe, entretanto, que João Dória se articula para disputar o governo do estado como o candidato tucano. Dória avalia que ganha as prévias no PSDB e se viabiliza candidato. Para seu projeto, Dória já costura com o presidente Michel Temer “estratégia para ficarem juntos em 2018”.  

Assim, na relação entre França e Alckmin, o primeiro que precipitar qualquer gesto que desagrade, justificará o distanciamento do outro. O tucano tem mais influência sobre sua legenda, França não.

A cúpula nacional do PSB tem manifestado insatisfação às articulações de França, pela forma como ultrapassam as questões locais. Na direção nacional do PSB ninguém se convence da viabilidade da candidatura de Alckmin. E há razão na suspeita. O tucano não tem convencido nem seus pares no PSDB. 

Vez ou outra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) cria embaraços a Alckmin. Recentemente, FHC afirmou que o estilo de Luciano Huck é PSDB”. Antes disso, FHC disse que Alckmin ainda precisaria provar que conseguiria “aglutinar o centro do espectro político”, para se viabilizar como candidato. Sugeriu, ainda, que se ele não conseguisse cumprir essa tarefa, os tucanos poderiam apoiar outro nome. “Se houver alguém com mais capacidade de juntar, que prove essa capacidade e que tenha princípios próximos aos nossos, temos que apoiar essa pessoa.” Dória, agora no carnaval, afirmou que o “PSDB pode ficar fora do 2º turno na eleição a presidente”.

Talvez por todo esse contexto, deputados do PSB garantem que os gestos contrários de França a vinda de Joaquim tem data marcada para acabar: a desincompatibilização de Geraldo Alckmin do governo do Estado para concorrer à Presidência República.

Sem a máquina do governo do estado nas mãos, França já conseguiu o apoio de três legendas à sua pré-candidatura: do PR, do PROS e do Solidariedade. Quando estiver na condição de governador devidamente empossado, seu poder de articulação será ainda maior. Nesse momento, o PSDB vai ter que optar por lançar Dória, sem a base de apoio que sustenta o projeto tucano, ou apoiar França, em tempo de ainda conseguir indicar o vice.

Lideranças mais experientes sabem que a conjuntura terminará de unificar o partido em torno de Joaquim Barbosa. Hoje, cerca de 16 executivas estaduais já apoiam a filiação Joaquim Barbosa no PSB e sua candidatura à Presidência da República. Capitaneados pelo líder da bancada do PSB na Câmara, o combativo deputado federal Júlio Delgado (PSB-MG), mais de dois terços dos deputados também querem Barbosa candidato à Presidência da República.

Delgado, que é hoje um dos principais articuladores da candidatura do ex-presidente do STF, pediu a Joaquim Barbosa, em encontro recente, que ele declarasse publicamente sua pretensão de concorrer à Presidência da República. A estratégia do líder do PSB, junto com o marqueteiro Diego Brady (que trabalhou na campanha de Eduardo Campos), era fazer com que o nome de Barbosa já figurasse nas próximas pesquisas. “Pontuando bem nas pesquisas e realizando cinco grandes eventos pelo Brasil, Joaquim não só termina de convencer indecisos dentro do PSB, como começa atrair apoio de outras legendas”, disse Delgado a militantes em uma reunião nas vésperas do carnaval.

A indefinição de Joaquim Barbosa alimenta e da margem para a articulação para que os interesses regionais sobreponham-se ao projeto nacional. Ao não emitir um gesto claro, Barbosa inibe a manifestação da ampla maioria no PSB que o apoia e o quer como candidato. Hoje, o principal adversário de Joaquim Barbosa é Joaquim Barbosa, em sua vacilação.

Se se manifestar candidato e filiar-se ao PSB, Barbosa verá mudança significativa sobre o noticiário que hoje especula sobre a incerteza de sua candidatura. Passarão a analisar e elaborar sobre sua viabilidade, resgatar sua atuação à frente do STF e no julgamento do mensalão, entre outras pautas positivas.

Receberá apoio espontâneo de lideranças e entidades da sociedade civil. Diretórios estaduais, municipais e outras lideranças do PSB manifestarão apoio e encontrarão seu lugar no front da próxima eleição.

Hoje, o gesto que define o futuro do ex-ministro Joaquim Barbosa não é uma inviável unidade do partido a um nome que ainda sequer pertence aos seus quadros. O gesto tem que partir do próprio Joaquim Barbosa. É a clara manifestação de desejo de candidatura já manifesta por todos os seus adversários. Todo o resto virá por consequência.

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