O Campo de Batalha Sou Eu - Fausto Wolff




(...) Carros buzinam, freiam, chocam-se uns contra os outros. Consegui, entretanto, ganhar  alguns metros da manada que do outro lado da rua continua urrando. Mas deste lado já perceberam a presença do perigoso psicopata e a caçada recomeça. Já ouço o latido dos cães e o som característico das trombetas. Trata-se de caça ao homem. O primeiro pogrom de muitos que virão. Uma criança aproxima-se chupando um picolé. Impossível parar agora. Caio inteiro sobre ela. Meu filhinho querido, perdoa, não foi de propósito. Eu não sou um mau sujeito. Eles é que me perseguem. Há fogo na minha garganta e quando não se tem Deus dentro de nós, é preciso acreditar nas pernas que velozes o medo torna. Passo por um portão enorme e uma senhora com ridículos papelotes atiça seu cachorro contra mim. Continuo esta jornada que não terminará nunca, pois que é legal. Consegui manter uma dianteira e entro num botequim. Rápido para o banheiro. Abro a porta com força e jogo um infeliz que mija, tranquilo, para dentro. Sua cabeça bate contra o vaso sanitário. Meus olhos, por um instante, contemplam a parede repleta de pornografias. As mãos cheias de excrementos, o homenzinho caído ao chão, olha para mim e anteouço o grito. Bato-lhe com o pé contra a cabeça. Mas não anteouvi. O grito foi dado. Atiro-me novamente contra a porta do banheiro e levo comigo o cheiro infecto da excrescência humana. Deus se diverte e não existe um serviço sanitário decente nesta cidade - penso - enquanto vou me desvencilhando de um sem número de mãos que tentam deter a minha marcha. Um braço mais forte machuca o meu braço. Estico o que está livre e um dos meus dedos alcança o céu da boca do filho da mãe que nunca me viu antes, mas que insiste em me deter, já na porta do bar. Vence o que é mais forte. Com um puxão, rasgo a pele que cobre a sua face, deixando à mostra a gengiva. Sangra como um porco, o desgraçado. E prossegue a maratona. (...)

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